Blogagem Inédita – P de Plágio
Depois que aceitei o convite do Edney Souza para participar do “blog carnival” Blogagem Inédita, pensei e refleti bastante sobre qual seria o assunto que deveria abordar, pois queria falar sobre algo com o qual eu realmente me importasse.
O tema escolhido saiu naturalmente após uma conversa com amigos. Eu resolvi falar sobre plágio, que é uma coisa com a qual eu tenho que lidar quase que diariamente quando vejo o conteúdo que eu produzo sendo copiado em outros sites sem o devido crédito, e também é algo que eu sei que mexe com as pessoas.
Isto pode parecer bobagem para pessoas que lêem estas linhas e não produzem conteúdo próprio, mas eu te garanto que enquanto eu digito estas palavras, alguém está copiando algo que eu fiz, e isto me incomoda. E muito.
Eu produzo conteúdo diariamente no meu site, e por isto posso afirmar com propriedade e conhecimento de causa que a quantidade de cópias que circula na rede é alarmante. Eu mesmo sou detentor de uma média impressionante e nada invejável, pois a maioria dos artigos que escrevo é copiada dezenas de vezes, a maior parte dos infratores só troca o nome do site pelo próprio, e vai em frente assim mesmo, assumindo opiniões alheias e tomando para si o ponto de vista de quem escreveu o texto.
Uma vez tive uma conversa sobre o assunto com a minha amiga Rosana Hermann, e gostaria de citar duas frases que ela me disse, e que não me saem da cabeça. Para Rosana, o plagiador é “como uma pessoa que entra nos 10 segundos finais de uma corrida só para cortar a fita de chegada com a tesoura, achando que é só para isto que se treina e se corre uma maratona.” Também segundo ela, o transgressor mal sabe que “pesquisar é um prazer, analisar é uma ciência, e escrever é uma arte.”
Mas mesmo assim, a sensação de impunidade deve ser algo irresistível, pois as cópias se proliferam com velocidade impressionante. Já cheguei a encontrar inclusive cópias das cópias, acredite se quiser.
Não devemos supor que a questão do plágio é nova, pois é claro que o plágio sempre existiu, desde o tempo da pedra lascada, quando provavelmente foram feitas cópias das primeiras pinturas nas paredes das cavernas. Isto foi se repetindo incontáveis vezes ao logo da história, com muitas cópias de obras de arte como pinturas, esculturas, livros, poesias, sonetos, jóias preciosas, e muito mais.
Pelo tamanho deste post, precisei dividir o texto em duas partes. Para continuar lendo a matéria, é só clicar abaixo.
O assunto de cópias e falsificações foi inclusive o tema de um filme dirigido pelo grande Orson Welles em 1974, “F is for Fake (Vérités et mensonges)”, que serviu como inspiração para o título deste artigo que você está lendo. Durante o filme, Orson mostra a trajetória de falsificadores famosos como o Elmyr de Hory que fazia cópias de obras de arte famosas, Clifford Irving, o biográfo que criou a biografia falsa do milionário Howard Hughes e de si próprio, citando a sua transmissão realista de Guerra dos Mundos, de H.G. Wells que instaurou o pânico nos Estados Unidos através das ondas de rádio, e a sua visão pessoal sobre a biografia de William Randolph Hearst, que deu origem ao maior filme de todos os tempos, Cidadão Kane, e acabou selando o destino do resto de sua carreira. Agradeço ao amigo Ricardo Ferreira pela ótima lembrança.
Só que com o advento da Internet a coisa mudou de figura, e para pior. A rede mundial de computadores se parece com uma “casa da mãe Joana” neste sentido. Faz parte da cultura da Internet a idéia de que nada tem dono, qualquer coisa pode ser usada e reaproveitada, qualquer texto encontrado na rede pode ser usado no seu Orkut. E até pode, desde que se preserve a ética e os valores, e especialmente, se coloquem os créditos e links. Mas nem isto basta, muitas vezes.
O sujeito entra em um site qualquer, copia a matéria textualmente e assume a autoria dos textos, que muitas vezes são narrados na primeira pessoa, tomando para si as suas opiniões e muito mais. Na maioria das vezes, o assunto pode ser esclarecido e resolvido através de um simples contato, como um caso no qual vi matérias minhas sendo usadas em um jornal impresso sem o devido crédito. Ao entrar em contato com o jornalista, recebi uma resposta cordial dizendo que havia simplesmente esquecido de colocar o link, e me propondo citar o meu site na próxima matéria para resolver a questão. Isto me deixou satisfeito, e desde então sou citado na mesma coluna, sempre com o crédito.
Esta não foi a mesma sorte da escritora Fernanda Lizardo, que teve seu texto copiado com pequenas alterações por um jornalista, em uma atitude conhecida como “contrafação”, na qual se tenta disfarçar o roubo mudando o texto para assumir a autoria da obra.
Depois de muitas tentativas de contato, o referido jornalista chegou a publicar uma nota dizendo que o problema havia ocorrido graças a um dos seus colaboradores, colocando uma retratação no seu site, que logo foi retirada sem maiores explicações, junto com o texto copiado.
Fiz uma pequena pesquisa sobre o assunto com amigos que também produzem conteúdo e precisam lidar com este problema. Para Paulo do WTF Brasil, “existem dois casos, o que copia por não saber que isso é errado, e nem mesmo pretende ter algum lucro com isso, e o plagiador ‘profissional’, aquele que coloca adsense e outros programas de afiliados, sabe que plágio não é um prática permitida, mas mesmo assim copia, por achar que ficará impune. No primeiro caso, até levo numa boa, tento conversar com o cidadão, explicar que não é bem por aí. No segundo, o ódio, a sensação de roubo, é inevitável.”
Esta opinião é compartilhada por José Carlos do site O Primo (), “Parece estranho mas fico até feliz, pois o plágio é o maior dos elogios: é sinal que meu conteúdo ficou bom até um ponto onde as pessoas querem se apoderar dele! Eu ficaria REALMENTE chateado se a pessoa estiver usando meu conteúdo para levar vantagem (ganhar dinheiro, etc), mas felizmente, até hoje, meus plagiadores foram apenas “peixes pequenos” que só queriam fingir que escrevem bem.”
Bruno Parodi também vê um lado lisonjeiro na questão, mas não esquece que a pessoa quer levar a fama por algo que não escreveu. Ele me contou sobre a sua experiência ao ser plagiado pela primeira vez, quando um impostor copiou textos que ele e outros autores escreviam na revista Internet World e transformou em um livro. Ele também teve problemas com jornalistas de veículos menores que copiavam informações da revista sem dar o crédito.
Em outro caso, ao escrever um artigo sobre o ICQ, Bruno descobriu que alguém havia copiado a matéria em um site sem dar o crédito para ele ou para a revista na qual o texto havia sido publicado. Ao entrar em contato, após algumas tentativas, acabou recebendo os créditos e ficou amigo do rapaz, que hoje em dia é um jornalista que escreve em um grande jornal sobre Internet.
Conversei também com Daniel Scocco, do site Daily Blog Tips, para saber como é esta situação no exterior. Se alguém pratica o plágio em um site localizado nos Estados Unidos (ou em qualquer país com acordos de propriedade intelectual (IP) com os Estados Unidos), pode sofer graves consequências, tendo seu site retirado do ar graças a um acordo entre a maioria dos provedores dos Estados Unidos que respeita o DMCA (Digital Millennium Copyright Act), uma lei de 1998 que deixa claro quem é responsável nos casos de plágio.
Nos Estados Unidos, se um provedor de acesso receber uma notificação formal sobre plágio, por exemplo, eles são obrigados a bloquear o acesso a esse conteúdo ou tirá-lo completamente do ar, caso contrário eles também se tornam cúmplices do crime.
Citando a sua experiência própria, Daniel informa que cada artigo que escreve é copiado cerca de 3 ou 4 vezes. No caso de artigos mais populares, o número pode chegar até a 100 cópias. Daniel também não se incomoda com os plagiadores amadores, que não buscam ter lucro com o conteúdo alheio, mas fica chateado quando descobre que alguém criou um site comercial para lucrar com os textos roubados de outros sites. Neste caso é muito fácil abrir um processo contra esta pessoa, pelo menos nos Estados Unidos. Nas palavras de Daniel, “não existem atalhos para o sucesso. A única forma de obtê-lo é trabalhando duro e sendo honesto. Ele acrescenta que a pessoa está causando mais prejuízo a ela mesma do que ao autor dos textos”.
Outra faceta do plágio na Internet é bem curiosa, a apropriação de identidade, que é muito comum no Brasil. Um bom exemplo disto é quando você recebe um texto do “Arnaldo Jabor” por e-mail, e ao começar a ler percebe que não foi escrito por aquela pessoa. Trata-se de uma tentativa de valorizar o texto, agregando um valor que ele não tem, buscando torná-lo mais conhecido. Daniel também recebeu e-mail semelhante nos Estados Unidos, com alguém atribuindo um texto falso a Michael Arrington do TechCrunch, que na verdade era falso.
Nas palavras de Bruno Parodi, esta atitude “é uma infantilidade, pois em geral se usa o nome de alguém famoso para que os destinatários daquele texto prestem atenção no que ele tem a dizer. É muito visível quando não se trata de um produto daquela personalidade, pois tem erros e principalmente estilo de escrita bem diferentes. Fica escancarado.” Eu concordo, e acho incrível como a pessoa que perde o seu tempo para fazer algo do gênero não pense nisto também, só que a inteligência não é o ponto forte dos plagiadores, muito pelo contrário.
Através da Internet também manifesta-se um outro tipo de plágio, se é que podemos chamar assim, o plágio de provas. Estudantes compram provas prontas como o no caso do site “zé moleza”, “portal do estudante”, “trabalhos prontos” e outros. Este último chega a citar que segue as regras da ABNT. Este tipo de plágio não traz prejuízos reais aos autores das provas, que podem até estar lucrando com o assunto, mas deprecia o próprio aluno, que pode até tirar uma boa nota neste exame, mas certamente não vai dominar o assunto e pode vir a ter problemas sérios quando se tornar um profissional despreparado para competir no mercado de trabalho.
Voltando a falar sobre o plágio de conteúdo, nem todos os infratores aceitam a acusação de plágio da mesma maneira. Em muitos casos, infelizmente, alguns usurpadores reagem com agressão, como se tivessem todo o direito de usar e abusar do seu conteúdo para sua fazer a sua promoção pessoal, e ninguém tivesse o direito de contestar esta atitude.
Na minha primeira experiência com o assunto, entrei em contato com a pessoa de forma educada e recebi ameaças de cadeia e até de morte quando questionei a postura de copiar tudo que eu escrevia na primeira pessoa. Ele então me respondeu que era um tenente em um quartel em Duque de Caxias, RJ e que eu devia ir até lá para conversar com ele pessoalmente, pois caso contrário ele mandaria “matar a minha família”. Resolvi deixar para lá, por motivos óbvios.
Existem também os que copiam na surdina, como por exemplo um tal de Leopoldo Moreira que copiou uma matéria que o meu irmão publicou no meu site na íntegra, e não apenas deixou de colocar o link e o crédito, mas também se deu ao trabalho de enviar a sua cópia para vários sistemas de promoção como o Rec6, Uêba, Linkk, Eu Curti e etc.
Outro tipo de plagiador é o admirador confesso. No mês passado eu recebi o pedido de uma pessoa que se dizia admirar o meu site, dizendo que tinha outro site no mesmo estilo e que inclusive os nossos sites tinham muitas coisas em comum. Segundo ele, eu devia apoiá-lo, afinal ele estava em Portugal e eu no Brasil, por isto não éramos concorrentes.
Como sempre faço em um caso como este, entrei no site dele para ver como era, e descobri que ele tinha copiado alguns textos meus sem nem citar o meu nome, mas tinha se dado ao trabalho de colocar a fonte da minha matéria.
Questionei a razão disto com educação e a resposta que recebi dizia que ele estava apenas começando e que não sabia direito como devia ser feito. Segundo ele, ele iria continuar usando meu site como base, mas iria nos sites onde eu havia buscado a informação fazer a sua própria tradução, desprezando o tempo que eu gasto pesquisando a web atrás de informações relevantes para os meus leitores.
Eu também comecei um dia, só que nunca copiei textos de ninguém, e nunca freqüentei outros sites com este objetivo, e tampouco li revistas ou jornais para copiar a pauta do dia. Ética se aprende em casa, quando se é criança, não quando está começando um site.
Existem muitas informações de qualidade sobre o assunto na rede, para quem quer prevenir este tipo de roubo. O mais famoso deles é o Copyscape, uma ferramenta que permite que você consulte possíveis apropriações do seu conteúdo online.
Outra novidade na área é a empresa CopyTrust, que presta assessoria jurídica aos blogs plagiados, retirando o conteúdo infrator do ar, e providenciando todos os detalhes.
A minha amiga Nospheratt escreveu um verdadeiro tratado sobre o assunto, que foi de grande inspiração na criação desta matéria.
Através dos seus escritos fui apresentado a um site incrível sobre “Plágio na Internet”, só que infelizmente ele tinha sido retirado do ar. Só que isto para mim não significa nada, afinal eu sou usuário e admirador do Wayback Machine, a nossa máquina do tempo pessoal na Internet, portanto pude acessar e consultar o conteúdo.
Para terminar este longo texto, queria dizer que relevância, credibilidade e coerência só se conquistam com suas próprias opiniões, e com o seu próprio texto. Ganhar dinheiro e prestígio com a opinião alheia a princípio pode parecer fácil, só que cara de pau tem limites, e a grande maioria dos copiadores em breve estarão fora do ar, graças a sua insignificância.
Este post faz parte da Blogagem Inédita.