Robert Capa – o fim de uma lenda?
Eu sou um grande fã de Robert Capa. O fotógrafo (cujo nome verdadeiro é Friedmann Endre Ernő) nasceu em Budapeste, na Hungria, em 22 de outubro de 1913. Se tornou famoso pelas coberturas fotográficas da Guerra Civil Espanhola, da Segunda Guerra Sino-Japonesa, da Segunda Guerra Mundial e da Guerra Arabe-Israelense de 1948. Morreu em 1954 durante a cobertura da Primeira Guerra da Indochina ao pisar em uma mina. Dizem que quando foi encontrado, suas pernas estavam dilaceradas, mas a câmera continuava firme em suas mãos. Considerado um dos grandes fotojornalistas da história, Capa foi um dos co-fundadores da Agência Magnum, juntamente com David Seymour, Henri Cartier-Bresson e George Rodger. Embora tenha ficado famoso com a cobertura de Guerras, Robert Capa também possuí uma produção fotográfica voltada para outras áreas do fotojornalismo e até mesmo fotos de arte, mostrando que ele não era apenas corajoso, mas também muito talentoso.
Um dos grandes feitos jornalísticos de Capa é que ele foi um dos poucos jornalistas que desembarcou junto com as tropas aliadas em Omaha Beach no Dia D. Fico imaginando ele correndo pelas trincheiras e desviando do fogo alemão. Porém, como o destino é impiedoso, depois de sobreviver ao desembarque, a maior parte das imagens acabou se perdendo porque o técnico do laboratório errou na hora de fazer a revelação. Apenas um punhado de imagens se salvaram.
E é justamente esse feito jornalístico que está sendo questionado agora. O crítico de fotografia A. D. Coleman vem levantando essa história desde 2016. O primeiro questionamento, que foi colocado na época, é que a sequência de acidentes que levaram os negativos de Capa a serem destruídos são altamente improváveis. Então, se as fotos não foram destruídas durante a revelação, o que realmente aconteceu? No começo de fevereiro desse ano Coleman publicou um relatório completo sobre suas descobertas do caso.
A história oficial, contada por Capa e todos os envolvidos no caso, diz que ele desembarcou na praia e fez um total de 114 fotos em 4 rolos de filme de 35mm. Depois disso ele teria caído na água e sua câmera emperrou, o que levou a seu retorno aos navios da marinha. Depois desse imprevisto, os filmes enviados para revelação sofreram o acidente no laboratório fotográfico e apenas 10 imagens se salvaram. Levando em conta filmes oficiais do exército e outras imagens de fotógrafos oficiais, Coleman afirma que Capa chegou na praia com o 16º Regimento de Infantaria, 1ª Divisão dos EUA, apenas na 13º onda de ataque. E mais, eles desembarcaram em um trecho da praia bem longe do combate principal e fora do alcance das metralhadoras germânicas. Nesse ponto afastado, Capa teria feito apenas 10 fotos (as que temos conhecimento) e logo teria voltado para o navio principal (por essa versão ele ficou de 15 a 30 minutos na praia), pois precisava mandar imagens para a redação da revista Life para serem publicadas antes de seus concorrentes. A história da câmera danificada não teria acontecido, visto que Capa continuou com o mesmo equipamento o resto da cobertura fotográfica.
Por fim, o estado em que se encontra as fotos que foram consideradas “sobreviventes” do acidente, são apenas o resultado de fotografias feitas com algum erro de exposição e velocidade, coisa que muita gente dizia ser comum na fotografia de Capa. Coleman aponta como Capa tinha o hábito de auto-engrandecer sua história e deixar suas aventuras épicas. Biógrafos, companheiros de trabalho e a família mantiveram as lendas e dificultam o acesso de historiadores aos materiais originais do fotógrafo para evitar investigações.
Em 2013, ao analisar uma série de fotos realizadas por Capa na guerra civil espanhola, ele foi acusado de ter encenado uma de suas mais famosas fotos: A Morte de um Miliciano (abaixo) e agora temos toda essa história sobre seu mais famoso trabalho. As evidências são bem convincentes, mas não acredito que seja suficiente para eliminar todo o legado de Robert Capa.
Robert Capa faz parte da história da fotografia. É dele um dos ensinamentos que mais sigo no mundo das imagens: Se sua foto não ficou suficientemente boa, você não chegou suficientemente perto. Vindo de um fotógrafo de guerra, é um ensinamento contundente. A produção fotográfica de Capa é gigantesca e de grande relevância para o fotojornalismo mundial. Destruir a lenda por trás de sua mais famosa aventura fotojornalística é um arranhão em sua reputação, mas não tira o mérito do grande fotógrafo que ele foi.
Para ver o texto completo com todas as evidências levantadas por Coleman é só seguir o link.