Entrevista com Brian Lam do Gizmodo
No fim de maio eu tive o prazer de entrevistar o editor chefe do Gizmodo, Brian Lam, no Hotel Sheraton do Rio de Janeiro. Brian estava no Brasil para lançar a versão nacional do Gizmodo, que deve entrar no ar na semana que vem, e gentilmente aceitou responder algumas perguntas do Digital Drops.
Nós falamos sobre muitas outras coisas como iPhone, a brincadeira do TV-B-Gone, a enorme quantidade de TVs no mercado, o conceito do OLPC 2 e muito mais. Eu também conheci Gaby Darbyshyre, a vice-presidente do grupo Gawker Media, mas a entrevista foi feita apenas com Brian Lam.
Confira a entrevista na íntegra clicando abaixo.
Nick Ellis: Como vai funcionar a versão brasileira do Gizmodo? Vai ser uma simples tradução ou uma equipe local fazendo pesquisa e criando posts originais?
Brian Lam: Nós já fizemos isto antes em outros países, mas você sabe, basicamente a maneira que trabalhamos é que nossos parceiros podem usar uma parte do nosso conteúdo, mas nem tudo o que escrevemos se aplica ao mercado local, o Brasil é um mercado de tecnologia único e especial, então eu diria que 60% seriam traduzidos, e entre 30% e 40% vão ser de matérias locais.
Nick: Criado especificamente para o Brasil?
Brian: Especificamente para o Brasil, eu tenho certeza de que se focarmos nos fabricantes de laptops e de tecnologia locais, o mercado negro no Brasil, para coisas como o iPhone.
Nick: Eu tenho um iPhone, e adoro!
Brian: É, eu tenho certeza que você deve ter viajado para comprar, ou então ter pago uma fortuna por ele. A Apple não tem nenhuma distribuição aqui?
Nick: Eles devem lançar o iPhone por uma operadora local neste ano, mas ele não deve ser a versão 3G. As pessoas trazem os iPhones por baixo dos panos.
Brian: Truques como este seriam um bom artigo para a versão local do Gizmodo. Eu teria interesse pessoal em aprender como a tecnologia funciona aqui no Brasil. Eu gosto deste país, esta semana foi muito boa. Eu acho que a cultura Brasileira combina com o Gizmodo, um amor pela vida, você sabe?
Nick: Combina perfeitamente. O que eu gosto do Gizmodo é o senso de humor.
Brian: As pessoas aqui gostam de sorrir. Nem todos os países são assim, alguns países Europeus pensam que nós fazemos muitas piadas.
Nick: Eu sou maluco por estas piadas do Gizmodo, como a do TV-B-Gone. Vocês planejam algo parecido por aqui?
Brian: Não, aquilo foi uma experiência, eu não sabia que ia acontecer. Nós fizemos isto só uma vez, e eu penso que o fato das pessoas ainda se lembrarem disto, significa alguma coisa. Tivemos alguns problemas por causa disto, por isto não foi perfeito, mas foi uma experiência muito boa.
Nick: Eu adoro o TV-B-Gone, é um aparelhinho muito interessante.
Brian: O problema é que nós nos sentimos um pouco mal pelas pessoas trabalhando nos stands. Mas nós achamos que a CES é muito difícil, tem muitas pessoas, muitas coisas para se escrever, muitos gadgets medíocres, e talvez muitas TVs…
Nick: Tantas TVs que começa a te irritar…
Brian: Sim, então nós as desligamos.
Nick: Hehehe.
Brian: Mas se você olhar, neste ano, é interessante que todos os fabricantes de TVs estão se unindo, como a Panasonic e a Pioneer que estão fazendo uma parceria para Plasmas, e a Sony e outra companhia… Eu acho que a Toshiba está trabalhando com a Sharp para criar suas telas LCD. Então está acontecendo muita consolidação, porque existem muitas TVs no mercado. Você não consegue vender o suficiente quando existem modelos demais.
Nick: E sem muitas diferenças entre eles.
Brian: Sim, é difícil encontrar a diferença entre uma TV Sony e outra Sony. É uma uma coisa difícil demais para as pessoas comuns.
Nick: Qual é o seu gadget favorito, de todos os tempos?
Brian: É difícil dizer, cara. Todos os jornalistas que respondem esta questão acabam falando sobre produtos da Apple, mas eu acho que eles são uma companhia especial. Eu uso uma Apple TV e queria que ele tocasse filmes em DivX.
Nick: Eu também. E filmes em MPEG.
Brian: Mas fico muito feliz em alugar algo, tranferir para o meu Mac e transferir para o Mac e depois para o iPhone.
Nick: Brian, posso trabalhar no Gizmodo Internacional?
Brian: Eu não acho que temos vagas no momento, mas quando tivermos…
Nick: Eu escrevo em inglês, no blog Coolest Gadgets.
Brian: Você escreve? Eu não sabia! Isto é muito interessante. O CG é um blog muito bom, nós sempre fazemos links para o Coolest Gadgets.
Nick: Sim, vocês linkaram vários posts que eu escrevi por lá.
Brian: A quanto tempo você escreve lá?
Nick: Eu escrevo lá há um ano e meio, mas ultimamente nem tanto, porque demoro mais tempo para escrever em inglês, e eu ainda preciso postar no meu blog, e em vários outros blogs…
Brian: Eu sinto que existe muito potencial para blogs de tecnologia em português, porque nestes dois últimos anos, eu recebi tantos e-mails de pessoas brasileiras e portuguesas pedindo por uma versão local.
Nick: Um destes e-mails provavelmente foi meu.
Brian: Pois é, apenas esta língua, apenas português, ninguém me pede por uma versão em outra língua, ninguém me pede por outra versão. Eu simplesmente não recebo este tipo de pedidos. Mas em português eu recebo tantos, então este é um bom lugar para ter um blog de tecnologia.
Nick: Vocês estão chegando ao Brasil, qual o seu próximo passo na dominação mundial?
Brian: Eu não sei. Só quero fazer meu trabalho rápido, para sair de casa algumas vezes.
Nick: O time do Gizmodo Brasil já está definido? Você pretende treiná-los?
Brian: Eu não vou treiná-los porque já temos um escritor local bem conhecido. Eu fiquei muito animado em conhecê-lo nesta viagem. Ainda não estamos dizendo quem ele é, mas pretendemos lançar em uma semana e meia, acho que a tempo da WWDC.
Nick: Bem a tempo para o lançamento do iPhone.
Brian: Sim, para o lançamento do iPhone 2.
Nick: O que você acha que vai acontecer com os outros blogs de gadgets locais com a chegada do Gizmodo, como o meu, por exemplo? Vocês querem esmagá-los ou conviver em paz?
Brian: Conviver em paz, com certeza. Todos nós nos ajudamos. Uma pessoa tem um furo e manda para todos os outros, e então todos escrevem sobre isto. Esta é a melhor forma.
Nick: Qual é o computador que você usa?
Brian: Eu uso um MacBook Pro com tela LED backlight de 15”. A bateria dura bem mais com a tela LED backlight.
Nick: Você pode falar sobre publicidade no Gizmodo?
Brian: Eu não sei nada sobre isto. Se eu tivesse que fazer isto também, nunca mais dormiria. Eu não tenho que lidar com este tipo de coisa.
Nick: Vocês fazem posts pagos no Gizmodo? Quando uma empresa está lançando um produto e eles te procuram e pedem para você escrever um post sobre isto?
Brian: Nós não fazemos este tipo de post.
Nick: A chegada do Gizmodo ao Brasil pode ajudar a população local a mudar os nossos impostos de importação, que são muito altos?
Brian: Eu não acho que podemos influenciar as taxas de importações locais, mas talvez se vocês se organizarem como uma comunidade, e reclamarem que os impostos estão atrapalhando o avanço do marketing de massa, e impedindo o acesso a tecnologia por parte das pessoas, talvez vocês consigam mudar isto. Porque eu detestaria pagar o preço que um MacBook Pro custa no Brasil. Então estas empresas acabam perdendo vendas, porque os impostos são tão altos.
Nick: E o que você acha do iPhone?
Brian: Ele é um gadget interessante, mas com algumas falhas. Vamos ver o que acontece em Junho, já que eles estão abrindo o iPhone. Mas mesmo assim não devemos ter programas de VoIP, por exemplo. A Apple disse que não ia impedir programas de VoIP, mas tenho certeza que vão dar um jeito. Você não pode criar um plugin para o Safari, não pode acessar a raiz do sistema de arquivos, não pode rodar programas em segundo plano, o que pode até ser bom, dependendo do caso. Mas é um problema para programas de mensagens instantâneas, com o Apollo. Você já se acostumou com a digitar com o seu iPhone?
Nick: Sim, eu sou até bom nisto, mas preferia muito mais ter um teclado de verdade, ou uma tela touchscreen com haptics. Por falar nisto, o que você acha do OLPC 2?
Brian: Eu não entendo como pode custar tão barato. Eles já divulgaram os preços?
Nick: Estão falando em algo como US$ 75.
Brian: É impossível colocar duas touchscreens por este preço. Eles queriam fazer algo especial, mas eu acho que a melhor forma de dar computadores para o terceiro mundo é dar velhos computadores reciclados dos Estados Unidos, ninguém mais usa um Pentium II, por exemplo. E onde vão parar estes computadores? Eles vão para o lixo. É melhor doar estes computadores para as pessoas.
Nick: Sim, mas isto não soa tão bem…
Brian: É, não é suficientemente especial. Mas isto é uma besteira. Porque quando você inova desta forma, você não consegue alcançar a economia de escala onde as coisas custam barato porque você produziu muitas unidades.
Falando sobre o sistema operacional, acho muito estranho que eles tenham escolhido um sistema personalizado como o Sugar OS, porque a maioria da população nos países em desenvolvimento usa cópias piratas do Windows, assim as pessoas não vão estar prontas para usar os programas do dia-a-dia. No mínimo o OLPC deveria rodar Debian. Foi para coisas assim que o Linux foi desenvolvido.
Nick: Agora eles estão dizendo que todos vão vir equipados com o Windows XP.
Brian: Eu acho difícil. Como ele vai custar US$ 75, se este é o custo de uma licença do Windows?
Nick: É algo como o OLPC que era o laptop de US$ 100, mas que hoje custa US$ 188.
Brian: Este computador não vai ser produzido, é sério mesmo. Mas vamos ver o que acontece. Eu espero que nós estejamos errados, mas me parece um projeto de ego!
Nick: Eu não ia citar seu grande rival, mas queria saber. Nas suas palavras, como o Gizmodo se destaca em relação ao Engadget?
Brian: Eu acho que no começo nós pisávamos muito nos pés uns dos outros, tentando fazer sempre o mesmo tipo de histórias, mas eu falo com os caras, e realmente respeito eles, assim como eles nos respeitam. É claro que ainda é uma competição, na WWDC, por exemplo, nós sempre tentamos passar a frente dos outros, porque o assunto é o mesmo. Mas eu não acho que nós no Gizmodo tenhamos sido parecidos com qualquer um neste ano que passou. Acho que somos muito diferentes hoje em dia.
Nós gostamos muito de ser quem somos, e ficamos felizes porque eles são quem eles são. Nós temos muito respeito pelo que eles fazem, mas também sabemos que não vamos escrever sobre algo só porque eles escreveram, se nós acharmos que é chato. Assim como eles não vão escrever algo só porque nós achamos incrível…
Nick: Se não for o estilo deles…
Brian: Eles preferem falar apenas sobre gadgets, e nós queremos falar mais sobre a cultura de gadgets. E nós nos ajudamos, se eles fazem um erro, nós avisamos, e se nós cometemos um erro, você sabe muito bem, os blogs se movem rápido, acontecem muitos erros. Eu acho que as coisas estão se movendo em uma direção na qual não precisamos de tanta competição. O grande diferencial passa a ser a criatividade.
Nick: E os outros blogs de gadgets, vocês tem uma boa relação com eles?
Brian: Com alguns deles, sim, mas alguns outros copiam seu conteúdo sem dar o credito. Eu faço um esforço para sempre dar o crédito para quem consegue os furos, este blog achou esta notícia, que ótimo para eles.
Nick: Um dos meus maiores orgulhos é ter ganhado dois links do Gizmodo.
Brian: Isso é ótimo! Continue mandando as dicas, eu não consigo estimar o quanto isto é importante para nós. Porque é impossível estar em todos os lugares, mesmo com uma equipe relativamente grande. Então quando alguém manda uma dica, nós descobrimos bem mais rápido do que se estivéssemos lendo os feeds. Por isto quando alguém faz isto, eu fico muito feliz. Eu adoro quando as pessoas mandam boas dicas.
Nick: Esta é a grande força do nosso meio, uma pessoa colocando links para a outra.
Brian: Você acha que devemos passar mais tempo mandando e-mails para os editores quando tivermos uma novidade? Por exemplo, nós descobrimos o dia de lançamento do iPhone 2, você acha que devemos mandar um e-mail para todos estes blogs e outras fontes?
Nick: Eu adoraria receber um e-mail como este! É uma ótima idéia.
Brian: Talvez a gente devesse fazer uma lista de assinaturas.
Nick: Quantas pessoas trabalham no Gizmodo?
Brian: Temos vários estagiários e editores assistentes, que estão treinando para se tornarem escritores, se eles se esforçarem o bastante, e tiverem o talento que é necessário. Temos alguns escritores convidados, e alguns editores em tempo integral. A razão de termos tantos, é que estamos buscando uma cobertura 24/7 da melhor forma que for possível.
Nick: Todo mundo trabalha no quartel general, no apartamento?
Brian: Quase todos estão sempre no apartamento.
Nick: E vocês tem escritores fora dos Estados Unidos?
Brian: Temos em Madrid, Londres e outros locais.
Nick: Então ainda posso manter minhas esperanças?
Brian: Sim, você pode manter as esperanças! Nós temos autores em diferentes locais e fusos horários, para cobrir melhor as notícias.
Nick: Ok, Brian, muito obrigado pela sua atenção.
Brian: Está ótimo. Continue mandando as dicas!
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Baguete
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Estadão
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