Vídeo publicitário da Leica é banido da China

“Nós caçamos. Nós perseguimos. Nós lutamos. Nós arriscamos tudo .Curiosamente, passamos toda a nossa vida em busca de algo que, na maior parte, simplesmente não é … até que seja. E quando o grande momento se aproxima, sorrimos para nós mesmos e orgulhosamente sussuramos: Sou um caçador”.

A frase acima é a narração de um vídeo de publicidade feito pela agência brasileira de publicidade F / Nazca Saatchi & Saatchi  para a Leica no Brasil. O vídeo é uma grande homenagem ao trabalho dos fotojornalistas espalhados pelo mundo em zonas de conflito. Embora existam outras referências, a principal história contada no vídeo é sobre a cobertura dos protestos por democracia na Praça da Paz Celestial em Pequim, na China, em 1989. O que seria uma grande homenagem, acabou sendo um grande problema. O filme termina com o fotógrafo apontando a câmera pela janela e refletindo a imagem da famosa foto Tank Man. Ao final temos a frase “Este filme é dedicado àqueles que emprestam seus olhos para nos fazer ver”.

Assim que a peça publicitária foi ao ar, usuários chineses tiveram uma reação raivosa às imagens mostradas. Os usuários do Weibo (o Twitter da China) acusam a Leica de insultar o país com a dramatização e pedem que a empresa saia do país. Pouco tempo depois o governo chinês entrou na conversa e censurou a palavra Leica tanto em inglês quanto em chinês na rede social. Qualquer informação sobre o protesto é fortemente censurada na China e esse caso trouxe lembranças que o governo prefere enterrar.

O problema de toda essa bagunça é que a China é um grande mercado em expansão para as câmeras da Leica, principalmente por conta da parceria com a fabricante chinesa Huawei. A Leica se assustou com a repercussão do vídeo e o retirou rapidamente do ar. Porém, varias cópias começaram a aparecer pelo youtube. Embora o logotipo da empresa apareça no final do vídeo, a Leica anunciou que a publicidade não foi sancionada pela empresa e estão fazendo de tudo para se distanciar do ocorrido.

A empresa de publicidade brasileira diz que em seus 25 anos de existência, e vários trabalhos produzidos para a Leica no Brasil (inclusive a premiada campanha “100” para comemorar os 100 anos da marca) nunca produziria nada sem a estrita aprovação da empresa no Brasil, mas que não poderia comentar nada divulgado pela Leica na Europa. A última atualização da história diz que a Leica reitera que nunca aprovou nada e que vai tomar as devidas providências legais por conta do uso de sua marca sem aprovação.

No fundo, o que temos aqui é um gigantesco erro de estratégia publicitária. O vídeo é belíssimo, bem produzido, deve ter demorado muito tempo para ser planejado e executado, ou seja, um grande investimento. Acho meio difícil que a empresa de publicitária tenha feito tudo isso sem autorização de seu cliente. O que pode ter acontecido é que a empresa tenha muita independência em suas unidades espalhadas pelo mundo. Coisa que não acontece nas empresas japonesas da área de fotografia, por exemplo, que mantém tudo sobre o controle central com mão de ferro.

O que importa é que conseguimos assistir o vídeo antes que todas as cópias fossem apagadas da internet, o que na real acho difícil de acontecer, pois usuários chineses estão postando o vídeo como forma de crítica. Só a título de curiosidade, vários fotógrafos conseguiram registrar a foto mais icônica do protesto, mas a mais famosa é do fotógrafo Jeff Widener, e todas essas imagens foram capturadas com câmeras Nikon.

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